OS MISERÁVEIS
Victor nasceu no Jardim das Margaridas.
Erva daninha nunca teve primavera.
Cresceu sem pai sem mãe sem norte sem seta.
Pés no chão nunca teve bicicleta.
Hugo não nasceu, estreou.
Pele branquinha nunca teve inverno.
Tinha pai tinha mãe caderno e fada madrinha.
Victor virou ladrão
Hugo salafrário
um roubava pro pão
outro pra reforçar o salário.
Um usava capuz
o outro, gravata.
Um roubava na luz
o outro, em noite de serenata.
Um vivia de cativeiro
o outro de negócio
um não tinha amigo, parceiro
o outro, sócio.
Retrato falado
Victor tinha a cara na notícia.
Enquanto Hugo fazia pose
pra revista.
O da pólvora apodrece
penitente.
O da caneta enriquece impunemente.
Um,
só resta virar crente
o outro,
é candidato a presidente.
Sérgio Vaz
*do livro a poesia dos deuses inferiores.
www.colecionadordepedras.blogspot.com
domingo, abril 16, 2006
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